A gestão
da pandemia e as suspeitas de corrupção na compra de vacinas contra a
covid-19 mantêm o desgaste do presidente Jair Bolsonaro (sem
partido), mostra pesquisa da Atlas Político, realizada desde segunda, 26, e
finalizada nesta quinta, 29. Se as eleições fossem hoje, o presidente perderia
para seus principais adversários no segundo turno, incluindo o governador João
Doria (PSDB-SP), empatado tecnicamente com Bolsonaro, mas com viés de vantagem.
Doria venceria com um resultado de 40,6% a 38,1% do presidente. Como a pesquisa
tem 2 pontos porcentuais de margem de erro para cima ou para baixo, eles ainda
estão empatados, mas é a primeira vez que o governador paulista aparece no
páreo para se eleger. Em maio, Doria ficava 6,1% atrás de Bolsonaro
na simulação de segundo turno.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou a vantagem sobre
Bolsonaro em comparação à pesquisa anterior e venceria por 49,2% contra 38,1%,
num eventual segundo turno, num cenário com 12,8% de votos nulos ou brancos. Em
maio, a vantagem de Lula era de 4,7% sobre o presidente. “A tendência é de
fortalecimento de Lula”, diz o cientista político Andrei Roman, CEO do
Atlas. “Desde o início do ano, Lula vem numa trajetória constante de
crescimento”, completa.
Também Ciro
Gomes (43,1% a 37,7%), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta
(42,9% a 37,5%), e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (41,9% a 38,4%)
ampliaram sua preferência, e poderiam frustrar o sonho da reeleição do
presidente em 2022.
REPRODUÇÃO
O
levantamento confirma o momento de baixa de Bolsonaro, enquanto ele
intensifica a campanha contra o sistema eleitoral eletrônico, mesmo sem ter
provas para sustentar o que afirma, como mostrou sua live nesta
quinta. Segundo a Atlas Político, a rejeição ao presidente subiu e chegou a 62%
neste final de julho, contra 36% de aprovação. Trata-se de uma alta de cinco
pontos porcentuais em relação a maio, quando a CPI da Pandemia começou.
A Comissão Parlamentar apontou irregularidades em contratos de compra de
vacinas, como a indiana Covaxin, e suspeitas de pedidos de propina em outras
negociações que atingem inclusive militares que ocupavam cargo no Ministério da
Saúde.
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Roman
lembra que o noticiário tem sido negativo para Bolsonaro desde o
início do ano, com a pandemia, que teve seu ápice em março e abril, até que a
vacinação pegasse velocidade. “Há, ainda, os problemas da vida cotidiana. O
impacto econômico da pandemia, com os brasileiros desempregados, a renda menor.
E milhares de brasileiros que perderam alguém querido para pandemia”, explica
Roman.
As
ameaças à democracia, quando sugeriu, no início deste mês, que as eleições
poderiam não se realizar , não são fatores captados pelo eleitor ouvido na
pesquisa. “Pode ser que isso gere uma polarização maior na sociedade, que neste
momento se consolide uma maioria contra Bolsonaro, mas também é algo que
mobiliza a sua base”, observa Roman. “Não há derretimento de sua imagem por
causa da retórica contra as instituições, nem com a insistência na fraude em
eleição, uma tese aventada desde as eleições de 2018”, completa.
REPRODUÇÃO
Mas
seus adversários também se fortalecem. O ex-presidente Lula, por exemplo,
que já teve 60% de rejeição em maio do ano passado, hoje tem 54%. Ciro
Gomes, pré-candidato do PDT à presidência, também já teve 60% de rejeição
em novembro do ano passado e hoje tem 50%. Ciro, porém, ainda avança lentamente
no ranking de preferência dos eleitores. Alcança 6,2% da preferência numa
simulação de primeiro turno com Lula, Bolsonaro, Mandetta, os apresentadores
Danilo Gentile e Luiz Datena, além do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB).
Em maio, Ciro tinha 5,7% das preferências.
Rejeição no Nordeste e no Sul
Na
divisão dos eleitores por religião, o presidente tem uma aprovação de 52% dos
entrevistados evangélicos, contra 45% que desaprovam o seu
desempenho. Entre os católicos, a rejeição vai a 69% contra 29% que o aprovam.
Já na divisão por renda, Bolsonaro tem rejeição maior que 50% em todas as
faixas. Seu melhor desempenho está entre os eleitores que ganham entre 3000 e
10.000 reais (43% dos entrevistados aprovam sua gestão) e 2.000 e 3.000 reais
(42%). Sua maior rejeição vem entre os que ganham até 2.000 reais (69%), e os
que ganham acima de 10.000 reais (também 69%, como mostra o quadro
abaixo). Os eleitores do Nordeste e Sul do Brasil são os mais
refratários ao presidente: 73% e 65%, respectivamente.
REPRODUÇÃO
O
cientista político lembra que apesar do momento de baixa, a rejeição ao
presidente não é irreversível. “Quem não votou nele continua rejeitando, mas
quem votou, não”, diz Roman. A pesquisa mostra que 70% dos eleitores que
votaram nele em 2018 continuam aprovando seu Governo. “Bolsonaro se elegeu com
57,7 milhões de votos. Mesmo com a perda de apoio de parte desses eleitores,
ele continua forte”, explica.
Os ‘nem nem’ e Eduardo Leite
Segundo
Roman, há 23% do eleitorado que não quer votar nem em Lula nem em Bolsonaro. É
nesse espaço que seus adversários tentam construir uma terceira alternativa
para o eleitor, por ora, sem sucesso. Na simulação com todos os potenciais
candidatos, nenhum alcança dois dígitos nas preferências, até o momento. Não é
uma tarefa fácil, explica o CEO da Atlas Político, pois seria necessário um
nome que tirasse votos de ambos que têm um eleitorado já consolidado.
Juntos, eles somam mais de 70% do eleitorado.“Esse é um espaço que não foi
criado, e o potencial candidato precisa mostrar que as suas propostas são
melhores que as de Lula e Bolsonaro”, avalia.
Roman
vê no governador Eduardo Leite um potencial de crescimento capaz de criar essa
alternativa. Seu nome foi testado na pesquisa da Atlas Político em maio, quando
alcançou 1,1% das preferências. No início deste mês, Leite ficou no centro das
atenções do país após uma entrevista ao jornalista Pedro Bial em que assumiu
publicamente sua homossexualidade. Falou também da sua intenção de concorrer as
prévias tucanas para ser candidato à presidência, distiaciando-se dos dois
líderes nas pesquisas. Depois da exposição, foi entrevistado por jornais de
todo o Brasil e seu nome ganhou mais força.
Na
pesquisa desta sexta, ele aparece com 3,1% das preferências, logo atrás do
governador João Doria, que tem 3,5%. “Ele é o fator novidade. Se ultrapassar o
Doria, fica numa posição bem interessante para avançar, com chances do segundo
turno”, opina Roman. “Aí, todo o jogo político seria reinventado”, completa.
Leite
tem a vantagem de ser desconhecido (43% dos entrevistados não sabiam quem
é ele) e portanto com rejeição menor que os outros nomes no páreo: 37% contra
62% de rejeição a Bolsonaro e 54% de Lula. Já o ex-ministro da Justiça Sérgio
Moro, que está menos exposto ao público nos últimos meses, tem uma rejeição
similar à de Lula e numa simulação de segundo turno seria derrotado por
Bolsonaro. A um ano e três meses da próxima eleição, ainda é cedo para cravar
qualquer resultado, especialmente num cenário em que se desenham cascas de
banana com a campanha do presidente contra a urna eletrônica. A pesquisa da
Atlas Político foi feita a partir entrevistas online com 2.884 pessoas levando
em conta região, faixa etária, gênero e faixa de renda. As respostas são
calibradas por um algoritmo de acordo com o perfil do eleitorado.
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Fonte: EL PAIS
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